O Recaatingamento nasce e se fortalece a partir das comunidades que habitam o Semiárido brasileiro. São povos que se reconhecem como catingueiros — guardiões da Caatinga e de saberes ancestrais forjados na convivência com o clima e a terra. Essas comunidades tradicionais, como as de Fundo de Pasto, Quilombolas e Assentamentos de Reforma Agrária, desenvolvem estratégias próprias de uso, manejo e cuidado com o território, com destaque para práticas como a hidroestesia, o manejo de plantas medicinais e a leitura dos sinais da natureza.

As ações do Recaatingamento são construídas com protagonismo comunitário, respeitando e valorizando os modos de vida locais. Oficinas, rodas de conversa e atividades práticas estimulam a troca de conhecimentos, o fortalecimento da consciência ambiental e o enraizamento de práticas agroecológicas. Mais do que técnicas, o que se constrói é uma cultura de cuidado com a terra, com o território e com as pessoas.

As comunidades participam ativamente da elaboração e revisão dos Planos de Recaatingamento, estabelecendo regras coletivas para o uso sustentável dos bens naturais. Entre as principais ações realizadas estão o manejo adequado dos rebanhos, a proteção das áreas nativas, o plantio de forragem, o manejo do solo e a defesa do território frente às ameaças como grilagem, desmatamento, queimadas e grandes empreendimentos.

Em um contexto de mudanças climáticas, em que as populações mais vulneráveis são as mais impactadas, o Recaatingamento surge como um instrumento de resistência e cuidado. As práticas são pensadas a partir da realidade local, promovendo soluções coletivas para os desafios da desertificação, da contaminação dos solos e da escassez de saneamento.

Fortalecer as comunidades é fortalecer a Caatinga em pé. É reconhecer que os saberes locais, aliados a políticas públicas adequadas, podem transformar o cuidado com o Semiárido em um caminho de justiça socioambiental e regeneração.