O clima semiárido no Brasil abrange principalmente o interior da região Nordeste e parte do norte de Minas Gerais, sendo caracterizado por altas temperaturas ao longo do ano, chuvas escassas e mal distribuídas, além de longos períodos de estiagem. Essa combinação faz com que a região enfrente desafios históricos relacionados à escassez de água, à agricultura de subsistência e à vulnerabilidade social. No entanto, o semiárido brasileiro também é um espaço de resistência e inovação, onde populações desenvolvem técnicas adaptadas à convivência com a seca, como o uso de cisternas, manejo sustentável do solo e preservação da vegetação nativa. Compreender essa realidade é essencial para reconhecer a riqueza cultural, social e ambiental da região, e para apoiar políticas públicas que fortaleçam a sustentabilidade e a autonomia das comunidades que nela vivem.
As mudanças climáticas apontam para um novo cenário em todo o planeta. O desenvolvimento ilimitado promoveu uma crise civilizatória e fortaleceu na sociedade uma forma de se pensar a vida a partir da racionalidade colonizadora. A hegemonia dos princípios e valores do paradigma ocidental tem destruído e desarticulado outras formas de organização social fora do capitalismo.
Esse contexto de desequilíbrio ambiental causa, além dos impactos diretos com as catástrofes (secas, chuvas fortes, ventos, etc.), um aumento nos custos de produção e reprodução da vida. É nessa situação de emergência climática que se busca a narrativa de sustentabilidade, que nos últimos anos se apresenta pelos títulos e selos de empresas verdes, amigas do meio ambiente, empreendimentos sustentáveis, etc. Não por preocupação com a natureza e bens naturais, mas, com os lucros.
Entretanto, esses impactos não são sentidos da mesma forma por todas as pessoas na sociedade. Existe uma grande parcela social, em situação de vulnerabilidades, que são ainda mais impactadas negativamente por falta de políticas públicas estruturantes, como os povos originários e comunidades tradicionais, as populações que vivem nas periferias urbanas, na região semiárida brasileira, entre outros.
Dentro dessa perspectiva, as ações ambientais devem se ligar às demandas sociais, culturais e econômicas para melhoria/adequação da vida da população mais impactada no cenário de mudanças satisfatória para todas as pessoas, saneamento básico, entre outras, como condicionantes ao equilíbrio socioambiental.
Por desertificação entende-se o processo de degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas, por diversos fatores, dentre eles as ações climáticas e variações climáticas (Brasil, 2015). No Brasil, as áreas suscetíveis à desertificação correspondem a mais de 1.344.766 km², em 11 estados brasileiros, correspondente a 61,49 % dos territórios, atingindo diretamente 30 milhões de pessoas. Desse total, 180 mil quilômetros quadrados já se encontram em processo grave e muito grave de desertificação, concentrados principalmente nos estados do Nordeste, que têm 55,25% do seu território atingido em diferentes graus de deterioração ambiental. Na Bahia, a área estimada é de 491.741,4 km² (CGEE, 2016).
Os dados recentes acendem um alerta de ameaça ao equilíbrio ambiental da Caatinga. Segundo a Rede, no período de 35 anos, entre os anos de 1985 e 2020, foram desmatados mais de 10 milhões de hectares de savanas e formações florestais para atividades associadas à agropecuária. No total, a agropecuária avançou sobre 11,26 milhões de hectares da Caatinga e passou a responder por 35,2% da área do bioma em 2020. O total de vegetação nativa da Caatinga (ou seja, a soma das áreas ocupadas por savana, campo e floresta) ocupa 63% do bioma, respondendo por 9,8% da vegetação nativa do Brasil (PROJETOMAPBIOMAS, 2021).
Entre os anos de 2008 e 2017, mais de 90% da região mudou para um O cenário climático mais seco em comparação com o período de 1950 a 1979. Essas alterações climáticas correspondem de 30 a 50% a redução da biomassa em equilíbrio acima do solo até o final do século XXI (CASTANHO et al., 2020).
A projeção de aumento do número de meses com déficit hídrico, considerado uma tendência pessimista de aridização (SALES et al., 2015; LACERDA et al., 2016 e MARENGO et al., 2017). A temperatura do ar em áreas susceptíveis à desertificação na região Semiárida possuem 65% de propensão (BARBOSA NETO et al., 2021). O crescimento populacional e as formas de uso trazem consigo sérias implicações nas estruturas socioambientais e econômicas para os povos e comunidades desses territórios, reforçando assim a necessidade de estratégias de mitigação (ANGELOTTI et al., 2009; HUANG et al., 2020).
Como principais fatores de emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE no Brasil, está a mudança no uso da terra e nas atividades agropecuárias. O País é o quinto maior poluidor climático, com aproximadamente 3,2% do total mundial. Em 2021 o Brasil emitiu 2,16 bilhões de gás carbônico – CO2(SEEG, 2021).
A crise ecológica, como apontada nos últimos estudos, é uma realidade ambiental. Essa “não é uma mudança natural, é a transformação da natureza induzida pela concepção metafísica, filosófica, ética etecnológica do mundo” (LEFF, 2003).
A questão climática aumenta as desigualdades sociais, o que evidencia que o problema climático não está dissociado da realidade ontológica, como afirma:
A hipótese é que não entenderemos nada dos posicionamentos políticos dos últimos cinquenta anos, senão reservarmos um lugar central à questão do clima e à sua denegação. Sem a consciência de que entramos em um novo regime climático, não podemos compreender nem a explosão das desigualdades, nem a amplitude das desregulamentações, nem a crítica da globalização e nem, sobretudo, o desejo desesperado de regressar às velhas proteções do Estado nacional – o que se costuma chamar, um tanto erroneamente, de “ascensão do populismo” (LATOUR 2020, p. 11).
Nesse aspecto, parecer existir uma relação direta entre a crise climática e o modo de produção capitalista, empobrecendo cada vez mais as pessoas mais vulneráveis e aumentando a dependência assistencialista, que apesar de serem um direito, dificilmente contribuem para a emancipação dos sujeitos (OLIVEIRA,2023). A esse aspecto, fica “cada vez mais evidente que o capitalismo, e o seu conhecido desejo insaciável de acumulação, é o principal motor por trás da iminente catástrofe climática” (FOSTER et at., 2009, p.1085).
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